quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Promete-me.

Desembrulhei o teu último presente, meu amor. O último! Como é triste esta palavra: não me deixa esquecer que a partir de agora só a tua lembrança me resta. A tua lembrança e estas folhas onde vou deixando pedaços da minha alma.
Já sei o que estás a pensar, M. - que estou a ser pessimista, que há muita vida lá fora, que eu e esta sala pouco iluminada não fomos feitas uma para a outra. Prometi-te estar preparada para seguir em frente - é por isso que me deixas, como último presente, este livro intitulado “Promete-me”? - e eu sei o quanto odeias promessas quebradas. Bolas! Que raiva de te ter perdido, M.. Que raiva desta vida desgraçada que acaba antes do tempo. Que raiva, que ódio dessa maldita doença que nunca te roubou o sorriso, mas te roubou de mim! Que raiva de ti que me deixaste, M., e que raiva dessa tua mania de que eu sou mais forte do que penso. 
Perdoa-me, meu amor, mas eu não quero seguir em frente. Ainda tenho a tua garrafa de whiskey favorita: está na mesma estante onde a deixaste. E a tua almofada continua intacta - tenho a esperança que o teu odor perdure e me mantenha a ilusão de que nunca te foste embora. 
Acima de tudo, M., continuarei a escrever-te: é a única coisa que te prometo. Escrever-te-ei sempre e em cada momento, porque sei que me lês, onde quer que estejas, à tua maneira - criticando o meu dramatismo e o meu uso dos pontos finais. Mas só através destas linhas te posso continuar a dedicar a minha alma, meu amor. Serão os meus presentes eternos para ti!

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