quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Dos lugares que também nos fazem.

Quando penso no que tem sido a minha vida ao longos destes tantos e tão poucos 24 anos, penso muito não só nas pessoas que me foram, de uma forma ou de outra, tornando na pessoa que hoje sou, mas também em todos os lugares por onde passei e por onde ainda passarei. E quanto mais penso, mais concluo que os lugares são, sem dúvida, fundamentais na nossa definição enquanto pessoas e, tal como as pessoas, eles perduram em nós. O cheiro, os ruídos, os silêncios, a solidão profunda ou a alegria de um grupo de amigos, as rotinas e os hábitos que mudam sempre de lugar para lugar. Trago todos os lugares por onde tenho passado no coração e não são raras as vezes em que alguma coisa me faz lembrar deles.
O ruído do elétrico lembra-me o Porto, a cidade que me viu nascer, a Igreja do Carmo e a minha avó a passear-me orgulhosa ao Domingo de manhã. O som do mar traz-me à lembrança Matosinhos, onde cresci e me fiz mulher e para onde voa o meu coração sempre que a saudade aperta. Foi provavelmente lá que mais chorei em toda a minha vida, mas também foi de certeza onde mais vezes aqueci o coração.
Saudade é também a palavra que me leva a Braga. Braga tem uma magia especial, uma luz própria que é difícil de encontrar numa cidade, por maior que seja. Braga viu-me crescer de várias maneiras, viu-me criar sonhos e correr atrás deles. Braga deu-me amigos que nenhum lugar nunca apagará.
Bolonha é o pôr-do-sol. Ah, se é! Cidade das cores do fogo, do cappuccino e do Inverno a sério. A lembrança que me traz cheiro da pizza saída do forno nunca será substituída por nenhuma outra, como nunca o será ouvir a "Aqui ao Luar" dos Xutos.
Guimarães foi, provavelmente, a cidade onde mais me senti sozinha, por mais pessoas fantásticas que tivesse à minha volta. Mas nunca me esquecerei da sensação fantástica de conduzir à deriva ao som do oceano pacífico da RFM, e do conforto do regresso a casa ao fim de semana. Guimarães ensinou-me a gostar da minha própria companhia, a desfrutar de verdadeiros momentos de silêncio em que só as páginas do meu livro faziam algum ruído. 
E depois Dublin. Esta cidade cinzenta, chuvosa e fria que foi a maior surpresa de todas. Dublin é chuva, mas também é brunch ao Domingo de manhã. É frio, mas também é música nas ruas e pessoas felizes. É sair do trabalho e ouvir alguém a tocar gaita de foles de forma sublime. É mudança e um futuro risonho. Para onde quer que vá, será sempre a cidade onde mais amei.

E, depois de tudo, no fundo todos estes lugares são as pessoas com quem os partilhei, que tanto me deram e por isso nunca partiram, nem partirão alguma vez. 

O bom de mudar de sítio muitas vezes é perceber que o meu coração é suficientemente grande para deixar pedaços enormes por onde quer que passe.

Até já.


quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Amo-te.

O melhor da vida é sentirmo-nos amados. Por aqueles que amamos e, não sejamos hipócritas, por outros também. Mas foquemo-nos no amor recíproco. Esse amor que nos faz bem, que nos cola um sorriso nos lábios ao acordar e que nos faz adormecer com o coração mais quentinho do que os pés.

Quando nascemos e durante a nossa infância, amor é tudo aquilo de que necessitamos para ser felizes. A certeza de que há ali uma figura de referência, seja uma mãe, um pai, um avô, uma avó, um tio, uma tia, que nos ama incondicionalmente, nos protege e assegura o nosso bem-estar emocional é, talvez mas não suficiente, mas fundamental para nos formarmos seres humanos capazes e competentes.

Nessa altura, a nossa própria capacidade de amar é muito maior do que em qualquer outra fase da vida. Encontramos nas pessoas que nos acompanham, os nossos heróis favoritos e vibramos com as gargalhadas deles, da mesma forma que sofremos com as suas lágrimas. O amor é uma coisa simples. Basta receber tudo de bom e o mesmo retribuiremos. "Filho és, pai serás", sempre ouvi dizer.

O problema é que quando crescemos, este amor absoluto parece, de repente, relativizar-se. Já não queremos dar tudo, porque há algo que deve sempre ficar para nós. E na verdade já não podemos dar tudo, porque não temos tempo. Amamos muitas outras coisas, de repente. Amamos o nosso trabalho, amamos a nova cidade onde vivemos, amamos os novos amigos que vão surgindo, amamos os outros que sempre vão ficando, amamos um novo alguém na nossa vida.

Aflige-me então que já não possamos dar tudo sempre, como acontecia antes. Aflige-me a aversão que temos ao uso de um "amo-te", sobretudo às pessoas que estão na nossa vida desde o início. Aflige-me as opções que vamos tomando e que nos roubam momentos que nunca saberemos se voltam. Tornamo-nos muitas vezes egoístas, porque sabemos que precisamos de amor em determinado momento, mas esquecemo-nos de perguntar se a pessoa que nos abraça não precisa, também ela de chorar, ou de rir muito até doer a barriga. Esquecemo-nos de dizer "obrigada por estares aqui". Forçamos o esquecimento daquele "amo-te" que nós próprios tanto gostamos de ouvir.

Por não saber por quanto tempo o poderei fazer, faço questão de amar muito, por palavras e actos, todos aqueles que durante toda a minha vida tanto me deram. Faço questão de dizer aos meus pais, às minhas três irmãs, aos meus avós, aos meus amigos, amigas e ao meu namorado, o quanto eles são fundamentais para o meu equilíbrio. O quanto a felicidade deles faz parte da minha também. O quanto a sua presença me falta.

Que nunca nos falte um "amo-te", um "gosto muito de ti" ou um "tenho saudades tuas".
Ainda por cima temos o privilégio de o poder dizer em Português.

Com amor,
Até já.

domingo, 20 de outubro de 2013

O outro lado da emigração.

Desde que deixei Portugal, há um ano e meio sensivelmente, o tema da emigração jovem tem feito cada vez mais furor. Duvido que ainda reste alguém em Portugal que não tenha pelo menos uma pessoa próxima a viver fora do país: um filho, um amigo, um irmão, um neto. Somo-lo todos nós e sabemos bem o peso que isso acarreta.
Não acredito, no entanto, que a questão da emigração seja, sempre, abordada da forma mais correcta. Acredito mais depressa que seja abordada pelo lado mais fácil, mais mediático e mais sensível para qualquer um de nós: a dor de partir, a saudade, a coragem, a cobardia, o fugir, o enfrentar, enfim, toda uma panóplia de termos que parecem andar de mãos dadas com todos nós que tomámos a decisão de sair e com todos os "nossos" que ficaram.
Apesar de não negar nem querer ignorar de nenhuma forma o peso emocional e as consequências demográficas e económicas para o nosso país que esta vaga de emigração jovem traz e trará em anos não muito distantes, julgo que está na hora de olharmos para o fenómeno por um lado menos negativista e menos pesado. 
Por que não substituir as expressões "coragem" ou "fuga" por "sucesso" e "conquista"? Por que não pensar naqueles que deixam o país como "os que encontraram alternativas mais satisfatórias e realizadoras", ao invés de encará-los como "os que, coitadinhos, deixam o país porque a sua vida era absolutamente miserável e nunca poderiam ser felizes no seu Portugal?". Bem sei, bem sei, nem todos os casos de emigração são casos de sucesso. Mas há muitos, imensos até, que o são e isso prova, mais do que a falta de oportunidades que há em Portugal, o quão bons são estes lusitanos que se aventuram além fronteiras! 
Por outro lado, os que ficam em Portugal, são também muitas vezes vistos de duas formas distintas. Para uns, são os coitadinhos sem coragem, cujas vidas estão condenadas ao fracasso num país que nada mais tem para oferecer do que precariedade e desemprego. Para outros, os que decidem não sair são os resistentes, os bravos que se mantém e que lutam por uma pátria em decadência. Para mim, os que ficam são tão pessoas e tão tudo o resto, como todos aqueles que saem. O seu único pecado (ou virtude!) é terem feito outras escolhas, terem outras prioridades.
A chave está, na minha opinião, em olharmos para tudo isto de uma forma mais otimista e em assumirmos que a emigração de hoje em dia (embora de consequências futuras inegavelmente nefastas!) é radicalmente diferente daquela que se praticava há quatro ou cinco décadas. Nós já não somos os emigrantes da mala de cartão, mas também não fugimos nem perdemos afectos nem nos esquecemos do quanto é bom ser Português. 
Mesmo que tudo o resto falte, nunca nos tirarão os dias de sol no Inverno, o bacalhau com natas ou o Fado. Esse Fado que, em qualquer parte do Mundo, viverá eternamente connosco.

sábado, 12 de outubro de 2013

Tu, sim, Malala.

Mais uma vez o Nobel da Paz foi entregue a uma organização. Mas ele deveria ser teu, Malala, e por isso escrevo esta pequena crónica.

Não quero, de modo algum, desvalorizar o papel que organizações como a da Proibição para o Uso de Armas Químicas ou a União Europeia tiveram para a preservação da paz mundial em momentos específicos fundamentais da nossa história. As duas grandes guerras foram efetivamente períodos horrendos e aterrorizantes e o papel destas organizações na re-pacificação da Europa e do Mundo não deve ser minimamente desvalorizado.

O que me incomoda é que, nos dias de hoje, já nem comités de tão alto gabarito como o da atribuição do Nobel da Paz pareçam ser capazes de desempenhar as suas funções longe dos interesses políticos e estratégicos das grandes, pequenas e médias potências. O Obama precisa de ser visto como o novo fôlego na credibilização da política externa norte-americana, ganha o Nobel da Paz. A UE está em crise, damos-lhe o Nobel da Paz. É preciso que alguém legitime uma intervenção na Síria, tomem lá o Nobel da Paz.

Ainda mais, no entanto, me incomoda pensar que esta organização que ganha agora o prémio máximo do reconhecimento pelos esforços para a paz mundial é financiada por algumas das mesmas entidades que, ao mesmo tempo, financiam a existência e a persistência da existência de armas químicas, ou não químicas - isso será o menos relevante neste contexto, se levarmos em consideração que PAZ é geralmente definida como um estado de calma ou tranquilidade, uma ausência de perturbações e agitação. Derivada do latim Pacem = Absentia Belli, pode referir-se à ausência de violência ou guerra (Wikipedia).

E por isso é que eu acho que tu, Malala, tu merecias o Nobel da Paz. O prémio principal e não apenas o Sakharov de consolação.

Porque tu és apenas tu e a tua voz e a tua coragem. Tu falas de uma solução absolutamente pacífica e de consequências magnânimes a longo prazo. Também eu acredito que a educação é o caminho para um mundo mais igualitário e mais justo, sem armas químicas, mas também sem discriminação, sem fanatismos religiosos ou políticos, sem a opressão das minorias.

Mas há, para além de tudo isto, outra coisa em que eu acredito. Eu acredito que a nossa geração precisa de exemplos como tu, Malala. A nossa geração precisa de acreditar em muito mais do que nas organizações e nas elites políticas e financeiras que nos (des)governam.

Nós precisamos de acreditar nas pessoas. Nas boas pessoas e nos seus sonhos, na sua coragem. Só essas, como tu Malala, têm o verdadeiro poder de transformar o Mundo num lugar melhor.



terça-feira, 10 de setembro de 2013

Dare to dream.

Quanto mais coisas me acontecem, menos escrevo. Devia ser ao contrário, não é? Quanto mais coisas tenho para contar, mais quero escrever, de outro modo a existência deste blog perde o sentido. Adiante.

Esta Irlanda fria e tantas vezes monótona tem trazido à minha vida um rumo que nem nos meus sonhos menos modestos eu imaginei. Ainda hoje estava a pensar que gostava de escolher um moto para a minha vida. Só porque as palavras são uma das minhas grandes paixões e porque uma frase bem escolhida pode significar muito mais do que todos os textos que eu possa colocar aqui. Não que eu ache que ter um moto mude alguma coisa ou contribua de alguma forma para a optimização do meu branding pessoal. Nem sequer estou muito preocupada com isso. Gosto destas coisas, pronto.

E então escolhi-o: Dare to dream.

Sempre sonhei muito, a dormir e acordada. Durante algum tempo debati-me com a minha vida e com as minhas emoções porque, tendo tudo, não era feliz. Os meus sonhos eram sempre muito maiores, muito para lá do real e, lá no fundo, nem eu nunca acreditei que eles se pudessem realizar. Hoje é diferente. Hoje acredito.

Não que os meus sonhos estejam todos realizados. Oh! Que sentido teria a minha vida agora? E também não se dá o caso de eu ser totalmente feliz e realizada - se fosse, para quê sonhar? O que está diferente agora é que perdi o medo de sonhar e de sonhar cada vez mais alto. E também perdi o medo de abdicar. E de arriscar. Hoje talvez perca, hoje talvez me arrependa. Amanhã ganharei, amanhã saberei que houve um sentido qualquer para a minha decisão. Ou para o meu impulso! E se não houver... bem, se não houver terei consciência de que, pelo menos, ousei sonhar. E também de que, certamente o voltarei a fazer.

E assim tenho vivido os dois últimos anos da minha vida. De sonho em sonho, de conquista em conquista.

Pelo caminho vou perdendo outras coisas. Vou abdicando delas. De conversas, de pequenas conquistas dos outros que não minhas (apercebo-me também que este caminho traz um lado egoísta obrigatório, mas doloroso de cada vez que penso nele!), de histórias a que já não pertenço, até de algumas amizades, porque isto da distância não perdoa.

Ainda assim eu arrisco. E ouso sonhar!

Até ja!

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Mulheres.

Venho de uma família de mulheres. Mulheres que, fui percebendo e saboreando ao longo dos anos, são deliciosamente imprescindíveis na vida dos seus homens. Filhos, maridos, pais. Na minha família as mulheres são força e carregam o mundo nas costas com um sorriso e boa disposição.

Penso todos os dias na maravilhosa oportunidade que a vida me vai dando de ter quatro avós, saudáveis, bem dispostos e maravilhosos. E penso ainda mais em como é fantástico que eles, os nossos patriarcas, continuem apaixonados por elas, as verdadeiras forças motrizes da família. Vê-se no olhar e sente-se nos gestos que o amor, a gentileza, a delicadeza nunca diminuiu com os anos. Amadureceu e ganhou contornos rotineiros que a eles lhes sabem bem e que os fazem felizes diariamente. 50 anos depois, as minhas avós ainda são mimadas com comidinhas especiais, cházinhos tardios na cama, flores e prendas inesperadas. E nunca são deixadas de lado na hora em que eles tomam decisões. A palavra delas é fundamental, indispensável e, muitas vezes, final.

O meu pai, enorme apreciador de mulheres pois claro, tem nada menos do que três filhas, porque três é a conta que Deus fez. E ele admira, respeita, ama e deixa-se levar pelas mulheres da sua vida. O meu pai, mais do que ninguém, sabe o quão importante é a sensibilidade, a curiosidade e o sentido oportunidade feminino e por isso ama, respeita e recorda com carinho todas as mulheres da sua vida, mesmo as que o foram numa vida que já não existe.

E depois há a minha mãe, que não tem par e não se pode comparar. A minha mãe personifica a coragem, mas também a sensibilidade, a determinação mas também a capacidade de perdoar, a firmeza mas também a inteligência de voltar atrás e reconhecer um erro. Sendo a minha melhor amiga, foi sempre, e mais do que tudo, Mãe em primeiro lugar. Devo-lhe a vida e muito mais do que isso.

Devo a todas as mulheres da minha família o orgulho de fazer parte deste clã feminino. E devo-lhes uma, ou muitas, palavras de admiração e de agradecimento.

E claro, aos nossos homens, pais, filhos, avós e tios, por nos manterem apaixonadas e por nos fazerem sentir, todos os dias, que os dias sem nós seriam bastante mais aborrecidos.

Um abraço gigante à família maravilhosa que tenho.
E agora sim.
Até já!

sexta-feira, 24 de maio de 2013

"Uma letra apenas e o mar fica maior".

O amor mais importante que trazemos connosco é o amor próprio. Só ele nos consegue fazer ver para lá de nós próprios, aceitar o que somos e não querer ser o que não somos. E só ele nos permite amar verdadeiramente outra pessoa. À medida que aumenta, o amor por nós mesmos leva-nos as inseguranças e os medos e ajuda-nos a viver com mais tranquilidade. 
O problema é que nós, humanos, seres de contradições e paradoxos, precisamos dessa insegurança para sermos inteiros. Passamos a vida a falar em "viver o presente" porque vivemos atormentados com a perspetiva do futuro. O futuro é incerteza e é nele que vivemos sempre. O presente é demasiado efémero e um minuto depois já desapareceu.
E então amarmo-nos implica que tenhamos (alguma) certeza de que somos o que queremos ser neste instante, neste momento. Lemos um bom livro, ouvimos um bom disco, fumamos um cigarro e sabemos que nos amamos, que somos felizes connosco próprios e que, neste instante, nesta noite, nada pode abalar o conforto da nossa própria companhia.
Mas depois há o amar os outros. E esse amor já não é (por muito que queiramos convencer-nos que sim) vivido só no presente, neste instante, nesta noite. Esse amor é vivido já no futuro porque queremos que ele seja de futuro. Quando amamos, desejamos com todo o nosso ser que o outro nos ame agora mas nos ame também numa realidade ainda distante (que pode ser já amanhã). E essa incerteza do que está para lá desta noite é o que nos desassossega e o que dá cor e sentido à nossa vida. O amor por nós próprios é o nosso calmante natural. Pelo menos hoje tenho a minha companhia e isso faz-me feliz. Mas sei que amanhã te quero aqui e que o meu desassossego te vai pedir para nunca mais ires embora.

Se te amares como eu te amo e se me amares como eu me amo, então sei que a combinação entre o desassossego do espiríto e a tranquilidade de um abraço será sempre deliciosa como tem sido até aqui. 

Voa e voa mais alto. 
Só uma louca não voaria contigo.
E louca, eu não sou.

Até já.
Tua.


quarta-feira, 22 de maio de 2013

Menos discurso e mais acção, Portugal.

Não costumo escrever crónicas de opinião, é verdade. E não é porque não tenho opiniðes. Eu sou aquele irritante tipo de pessoa que acha sempre qualquer coisinha sobre tudo, mesmo que não perceba grande coisa sobre o assunto. E na minha ânsia de saber tudo, às vezes também faço figura de parva. Mas adiante.

Não escrevo sobre este tipo de assuntos, porque a minha paixão pela escrita advém precisamente da capacidade que só ela tem de me transportar para outras (i)rrealidades. Gosto de escrever para ser mais feliz e para fazer os outros mais felizes, porque de infelicidades e agonias os jornais já nos enchem todos os dias.

De qualquer modo, hoje apraz-me dizer algo, ou melhor, questionar-me sobre algo que realmente me tem preocupado no meu país e nos meus compatriotas. Esta crise tem acentuado o nosso afamado Sebastianismo e está, arrisco-me a dizer, a tornar-nos ridículos. Ou então está tudo a ficar doido mesmo.
Precisamos desesperadamente de um herói. E de um mártir, pois claro.

Há umas semanas, o Miguel Gonçalves ia salvar a pátria para uns e enterrar o que resta do nosso jardim à beira mar plantado, para outros. Esta semana, um miúdo de 16 anos que ninguém sabe de onde saiu torna-se buzz nas redes sociais, domina todas as conversas e ainda consegue a proeza de passar de bestial a besta em 24 horas. A tal investigadora Raquel faz o percurso inverso no mesmo espaço de tempo.

A crise está a toldar-nos o raciocinio e o pensamento critico não está?

O amor/ódio pelo Miguel, pelo Martim e pela Raquel é bem revelador do nosso desespero. As próprias figuras são o espelho dessa realidade. Em casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão. Ora pois.

O Miguel trata os desempregados como um gado uniforme que não gosta de trabalhar e que está desempregado porque quer. O Miguel também diz que em Portugal há lugar para todos e sabemos bem (eu sei-o bem) que não é verdade. E o Miguel tem um discurso presunçoso que, convenhamos, é irritante.

Mas o Miguel também incita ao esforço pessoal para se atingirem metas, toca na ferida das licenciaturas, mestrados e por aí fora e defende a ideia de que infelizmente nem todos somos bons naquilo que gostaríamos (tendo por isso que, inevitavelmente, trabalhar o dobro e descobrir qual afinal é a nossa vocação) e é direto ao ponto de nos dizer que estamos na era em que cada um deve, por si próprio, arranjar uma solução. Ponto.

Em todo o caso, uma coisa é certa. Os discursos e as expressões carismáticas do Miguel, por si só, não mudam nada.

Quanto ao Martim e à Raquel, se pensarmos bem aquela troca de palavras não acrescenta absolutamente nada. É óbvio que o ordenado mínimo português é ridículo e que ninguém vive condignamente com menos de 500 euros. É óbvio também que a investigadora Raquel não se calou porque o menino é a última coca-cola do deserto e demonstrou uma sabedoria fora do comum que a arrebatou imediatamente. E sim, levanta-se um debate importante e fundamental na sociedade portuguesa que muitas vezes é discutido com uma leveza que me agonia.

Mas vamos agora crucificar o Martim, que tanto ainda tem para aprender e que claramente deu a resposta que mais depressa lhe veio à cabeça porque é um adolescente de 16 anos cheio de sangue na guelra? E ainda por cima, não é também verdade que, em paralelo com o problema do salário minimo, temos um flagelo de desempregados a engrossar as fileiras para os pedidos de apoios sociais?

Eu acredito piamente que devemos lutar pelos nossos direitos. E faço-o todos os dias, à minha maneira,  porque quero um dia que os meus filhos sintam orgulho nas suas origens portuguesas.

Mas, por favor. Não é de heróis nem de mártires que Portugal precisa. E claramente nenhuma das três pessoas mencionadas tem estaleca para o ser.

Nós precisamos, Portugal, é de quem fale menos e faça mais.

Até já,
Ana.



domingo, 19 de maio de 2013

Quando decobrimos o que há para lá do Mare Nostrum...

Uma vez que não posso tolerar a possibilidade de ser apelidada de info excluida ou anti-digitalmente-social, tenho que escrever um pequeno artigo sobre a minha recente viagem à Tunísia. As fotos, essas claro, já estão publicadas em local devido.

Agora a sério. Faço questão de escrever sobre esta viagem porque foi, mais do que uma semana de férias, uma experiência inesquecível. De entre muitas que tenho tido desde que a minha vida mudou tão radicalmente no dia 4 de Maio de 2012.

A Tunísia é o país mais pequeno do norte de África e tem aproximadamente a mesma população que Portugal. Factos chatos à parte, um país e um povo absolutamente deliciosos. Apaixonei-me várias vezes durante a viagem e fiquei com uma vontade imensa de explorar outros países africanos, onde a simplicidade parece ser tantas vezes sinónimo de felicidade. 

Assim que aterrámos em Tunis, percebi que estava numa dimensão radicalmente diferente de tudo o que já conhecia. É preciso frisar que esta foi a primeira vez que saí da Europa pelo que, estando tão verdinha nestas andanças, foi um choque para mim a competição cerrada entre os taxistas para cativarem um jovem casal de turistas a viajar no seu automóvel, o proprio automóvel que não está nem perto dos taxis confortáveis e bonitos a que tão complacentemente nos habituámos no "mundo desenvolvido", as ruas e a (des)organização de toda uma cidade que, ainda por cima, e a capital do país. Maravilhoso!

Não há espaço para carros, peões, bicicletas e outros veículos. Todos coexistem numa grande barafunda de sons e movimentos em que quem não conhece é como quem não vê. Não existem regras e quem olha para os semáforos é  daltónico. As rotundas fazem-se pela direita, mas se o senhor da mota a quiser fazer pela esquerda também pode ser. E os peões, esses podem optar entre caminhar pelo passeio ou pelo meio da estrada. Não há limites, o importante é chegar ao destimo que, muitas vezes, nem sequer existe na verdade. 

O combóio não chega ao final da linha. Não existem razões, não é preciso. O combóio pára, muda-se para o autocarro, ainda se volta para o combóio e o trajecto pode muito bem terminar de novo num autocarro que, claro, transporta muito mais pessoas do que a sua capacidade pressupõe. 

A comida tunisina, tal como as pessoas, é deliciosa, simpática, colorida e generosa. Não gosto do lugar comum e facil que assume que todos os magrebinos vivem para vender coisas de que ninguém precisa e enganar o turista. Não é verdade. Tentaram vender-me coisas com a facilidade com que me ajudaram. E mesmo quando me pediram dinheiro, ofereceram algo em troca: um tour pela medina, a visita a uma varanda com a melhor vista sobre a cidade, o lugar correcto no combóio e outras coisas afins. 

Adorei as praias e o mar (sobretudo porque tinha muitas saudades deles, uma vez que na verdade não são praias paradisiacas e, no geral, considero que em Portugal temos praias bem melhores), mas o expoente máximo da viagem foi indubitavelmente o Sahara. Enorme, vasto, muito quente e de uma tranquilidade inigualável. Nunca em toda a minha vida vi um céu tão bonito. Nunca ouvi um silencio tão profundo e tão reconfortante. 

E contactar com pessoas que, de facto, vivem em pleno deserto é incomparável. 
Somos minúsculos neste mundo tão grande. E que fantástica sensação é essa!

Aconselho a quem goste de viajar e ainda não teve a curiosidade suficiente para conhecer a Tunísia.
Mas, por favor, nao façam como os 7 milhoes de turistas que lá vão anualmente e saiam do resort. Vale mesmo muito a pena!

Entre tudo isto, passou um ano desde que cheguei à Irlanda. A única certeza que tenho é de que, quando cá cheguei, não podia imaginar que um ano depois escreveria algo parecido com este texto.

You'll only catch your dreams if you follow them!

Ate já,
Ana

segunda-feira, 1 de abril de 2013

To my first and greatest love.

A Inês nasceu a 31 de Março de 93. Branquinha, de olhos verdes e de sorriso fácil desde o primeiro minuto de vida. A Inês foi o meu primeiro grande amor.

Em criança irritavam-me as bonecas. Nunca gostei de coisas que fizessem exatamente e apenas aquilo que eu queria. Sou de desafios, sempre fui. E a Inês foi sempre o meu maior desafio, porque já nasceu com a personalidade dos grandes, a bravura dos audazes, a coragem dos fortes. Ela nunca fez o que eu queria, como as minhas bonecas faziam. Ela brincava comigo, era a minha boneca e a minha companhia favorita. Desde que não fosse tudo como eu queria . Sem saber ainda falar, ela afirmava-se com o olhar.

A Inês sempre foi a unica pessoa capaz de me fazer confrontar as minhas fraquezas e os meus receios sem precisar de falar. Crescer com ela foi sempre e continuamente um processo de evolução pessoal também. Só ela conseguiu sempre fazer-me colocar toda a minha vida em perspetiva e perceber que ser Pessoa é muito mais do que estar neste mundo, viver este momento, ter uma rotina estabelecida, alcançar os objetivos pretendidos e tentar ser feliz no meio disto tudo.

Ser Pessoa, ser Humano é ser diferente, é ser irreverente, é ser único e ser feliz assim.

Foi a Inês que me ensinou a ver a beleza de tudo o que destoa da realidade a que supostamente devemos estar habituados. Quando ela nasceu já trazia uma aura diferente, uma força  especial incomum e característica de quem nasceu para vencer.

A Inês é uma vencedora. E como todos os vencedores, ri muito e muito faz rir quem por privilégio passa na sua vida. Como todos os verdadeiros vencedores, não se vangloria pelas suas vitorias diárias e constantes.  Antes, partilha-as com todos aqueles que direta ou indiretamente a ajudaram a vencer. Partilha-as sob a forma de amor, de generosidade, de humildade e de alegria. Para a Inês ver os outros felizes é sinónimo de ser feliz, ela própria.

A Inês é o grande amor da minha vida, a outra metade de mim.

A Inês fez 20 anos ontem e eu não a pude abracar. Mas ela sabe que não é preciso, porque onde eu estou ela está comigo, onde ela está eu estou com ela.

Parabéns piolho! <3

terça-feira, 26 de março de 2013

Março, mês de saudades.

Março.
Saudades.
Neve.
Frio.
Saudades.
Tudo ao contrário.
Primavera.
Inverno.
Eu ai.
Vocês aqui.
E saudades.
Abraçar-te.
Abraçar-vos.
Hoje. Tinha que ser hoje.
Melancolia.
Não estou aí.
Alegria.
Já são 25! E continuas aqui.
Comigo e sempre.
Que saudades!

Parabéns minha grande amiga, companheira de aventuras, ombro constante e eterno.
Ainda que longe, "grilo" da minha consciência, abrigo seguro e sereno.
O teu sorriso faz falta aos meus dias.

Friends are really like brothers you can choose.
*

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Das escolhas que (não) fazemos.

Para cada passo, existem duas escolhas. E uma delas, geralmente a mais simples, é apenas não escolher. Quando não escolhemos, refugiamo-nos no "tenho que...", "tinha de...", "não tinha alternativa...". Errado. E quase sempre sabemos que é errado, só que dá tanto trabalho admitir isso que nos esquecemos de nos lembrar que há alternativa.
Questionar o que nos rodeia é chato, aborrece, doí as vezes até. Sobretudo quando as questões levantadas nos levam à inevitabilidade da escolha. Escolher ser diferente, escolher não estar aqui, escolher hoje para colher amanhã. Mesmo quando há compromissos inadiáveis  Eles só existem porque escolhemos te-los, no entanto, são eles que, mais tarde, nos servem de refugio. E o pior é  que funcionam na perfeição para os outros e para nos próprios. Ah, somos tão facilmente ludibriados pelas nossas próprias mentiras!
Às vezes pergunto-me porque não somos capazes de utilizar a palavra "querer" mais vezes. O que provoca afinal a nossa aversão a escolha e o nosso amor desalmado, cego e mentiroso pela obrigação? 
Ser proativo e corajoso ao ponto de admitir as escolhas que se vão fazendo diariamente e nas coisas mais simples, é algo que esta ao alcance de muito poucos. Porque muito poucos admitem realmente que havia alternativa. Não sabendo, claro, se ela seria melhor ou pior, ela existe. Sempre.
E se escolhêssemos escolher mais vezes, seríamos, tenho a certeza, mais felizes. Assim, pelo menos, poderíamos olhar de frente para os nossos arrependimentos e os nossos fantasmas, porque saberíamos que eles só existem porque os quisemos. E se os quisemos, porque não usá-los a nosso favor?

Ate ja ;)

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Abraços.

Se um abraço chama por ti, não o negues. Para quê negar tanto o que tens tanta vontade de fazer? Para quê fingir  mentira a maior verdade que tens? Um dia os teus braços vão se entrelaçar sozinhos. Não há lá ninguém para abraçar. Por isso vá, abraça agora. Abraça apertadinho e não deixes fugir.
Vou contar-te um segredo: há abraços intermináveis. A sério. Há abraços que ainda cá estão, mesmo quando já não. Há abraços que nunca se esquecem. E há abraços que nunca nos esquecem.
Agora levanta-te e vai la. Não fales. Abraça simplesmente e finge que estás onde não estás, que voltaste ao lugar onde já foste feliz. É mentira quando dizem que não o deves fazer. Deves. E podes. Volta lá. E leva um abraço contigo.
Há sempre um abraço que não te deixa sozinho.
E há abraços que deixam saudades.

Ate já!

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Da inspiração. E da falta que ela me faz.

Preciso de inspiração para escrever. A falta de inspiração desinspira-me. Talvez isto seja redundante, mas é exatamente o que se passa. Não saber o que escrever faz-me sentir que também não sei muito bem o que fazer, que o vento me leva os dias sem que eles me deixem pinga de emoção. La está, de inspiração.
Pode ser que seja só o cinzento dos dias, a chuva e o frio. Ou a monotonia, o trajeto diário entre a casa e o trabalho que e sempre igual e não oferece novidade. 
Valha-me o cinema. E os livros, claro. Depois das pessoas mais queridas, são os livros quem me faz mais feliz. Sobretudo porque me fazem pensar, sonhar, viajar, aprender, sem sair do lugar, sem oferecer resistência  sem me fazerem provar-lhes nada. Não importa se eu sou boa ou má, se tive um dia bom, mau ou assim assim, se estou satisfeita ou desiludida, se ri muito ou se chorei muito. Eles estão iguais a eles próprios e contam-me historias, reais ou imaginárias, que me fazem fechar os olhos e estar lá. Depois durmo e estou mesmo, as personagens fazem parte da minha vida, eu própria sou outra personagem num livro alternativo a este que, sem me aperceber, vou escrevendo todos os dias. 
E depois há o cinema, claro. Com um bom filme posso chorar durante horas sem me sentir deprimida ou deprimente. Quantas vezes já lavei a alma com um bom filme! E depois também posso rir descontroladamente sem me sentir doida e apaixonar-me por pessoas que não existem e viver com elas uma vida que não existe mas que podia muito bem existir!
Desde sempre me perguntei como fazem aquelas pessoas que nunca tem duvidas e que são sempre tão incrivelmente felizes consigo próprias e com tudo o que fazem. Será que essas pessoas adoram o trabalho que fazem todos os dias? Mesmo todos os dias? E será que nunca se cansam de estar no mesmo lugar, de falar com as mesmas pessoas todos os dias? E será que não se cansam de si próprias?  Será que não tem vontade de ser outra pessoa por um dia, de viver outra vida por um dia, de mudar de autor e de estilo durante uns quantos capítulos? 
Preciso de inspiração. Ela faz-me falta. Tenho saudades dela. A sua falta faz-me questionar tudo. 
Hoje vou ver o Django.
E vou ler "The Fall of Giants".
De certeza que amanhã estou inspirada.


sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Ha gente que fica na historia da historia da gente.

Uma das coisas que mais aprecio nas pessoas e a capacidade de me surpreenderem mesmo ao fim de anos de convivencia, de milhares de dias passados em conjunto, de infinitas historias partilhadas. Eu ja gostava de ti, ja admirava a conviccao das tuas ideias, o tom tao proprio de tudo o que dizes e da forma como pensas.
Hoje, toda a forca do meu amor e da minha amizade estao contigo. Porque nos ultimos tempos ensinaste uma grande licao a todos os que te amam e a todos os que tao bem te conhecem.
Guerreira e a palavra que melhor te define e isso herdaste de quem coisas tao boas te deixa.

Seras sempre abencoada pela forca do amor que carregas contigo, pela tua generosidade, pela tua capacidade de amar e de seres amada. 

Mil palavras nao chegariam. E na verdade nao sao necessarias. Tens a coragem propria de uma mulher enorme. Uma mulher que se formou comigo e que cresceu ao meu lado.

Foi um privilegio conhecer uma familia maravilhosa que tao bem sempre me acolheu e com a qual passei momentos tao felizes. Nunca, nem em mil anos, me conseguiria esquecer. 

Adoro-te amiga.
Estou sempre contigo.