quarta-feira, 29 de maio de 2013

Mulheres.

Venho de uma família de mulheres. Mulheres que, fui percebendo e saboreando ao longo dos anos, são deliciosamente imprescindíveis na vida dos seus homens. Filhos, maridos, pais. Na minha família as mulheres são força e carregam o mundo nas costas com um sorriso e boa disposição.

Penso todos os dias na maravilhosa oportunidade que a vida me vai dando de ter quatro avós, saudáveis, bem dispostos e maravilhosos. E penso ainda mais em como é fantástico que eles, os nossos patriarcas, continuem apaixonados por elas, as verdadeiras forças motrizes da família. Vê-se no olhar e sente-se nos gestos que o amor, a gentileza, a delicadeza nunca diminuiu com os anos. Amadureceu e ganhou contornos rotineiros que a eles lhes sabem bem e que os fazem felizes diariamente. 50 anos depois, as minhas avós ainda são mimadas com comidinhas especiais, cházinhos tardios na cama, flores e prendas inesperadas. E nunca são deixadas de lado na hora em que eles tomam decisões. A palavra delas é fundamental, indispensável e, muitas vezes, final.

O meu pai, enorme apreciador de mulheres pois claro, tem nada menos do que três filhas, porque três é a conta que Deus fez. E ele admira, respeita, ama e deixa-se levar pelas mulheres da sua vida. O meu pai, mais do que ninguém, sabe o quão importante é a sensibilidade, a curiosidade e o sentido oportunidade feminino e por isso ama, respeita e recorda com carinho todas as mulheres da sua vida, mesmo as que o foram numa vida que já não existe.

E depois há a minha mãe, que não tem par e não se pode comparar. A minha mãe personifica a coragem, mas também a sensibilidade, a determinação mas também a capacidade de perdoar, a firmeza mas também a inteligência de voltar atrás e reconhecer um erro. Sendo a minha melhor amiga, foi sempre, e mais do que tudo, Mãe em primeiro lugar. Devo-lhe a vida e muito mais do que isso.

Devo a todas as mulheres da minha família o orgulho de fazer parte deste clã feminino. E devo-lhes uma, ou muitas, palavras de admiração e de agradecimento.

E claro, aos nossos homens, pais, filhos, avós e tios, por nos manterem apaixonadas e por nos fazerem sentir, todos os dias, que os dias sem nós seriam bastante mais aborrecidos.

Um abraço gigante à família maravilhosa que tenho.
E agora sim.
Até já!

sexta-feira, 24 de maio de 2013

"Uma letra apenas e o mar fica maior".

O amor mais importante que trazemos connosco é o amor próprio. Só ele nos consegue fazer ver para lá de nós próprios, aceitar o que somos e não querer ser o que não somos. E só ele nos permite amar verdadeiramente outra pessoa. À medida que aumenta, o amor por nós mesmos leva-nos as inseguranças e os medos e ajuda-nos a viver com mais tranquilidade. 
O problema é que nós, humanos, seres de contradições e paradoxos, precisamos dessa insegurança para sermos inteiros. Passamos a vida a falar em "viver o presente" porque vivemos atormentados com a perspetiva do futuro. O futuro é incerteza e é nele que vivemos sempre. O presente é demasiado efémero e um minuto depois já desapareceu.
E então amarmo-nos implica que tenhamos (alguma) certeza de que somos o que queremos ser neste instante, neste momento. Lemos um bom livro, ouvimos um bom disco, fumamos um cigarro e sabemos que nos amamos, que somos felizes connosco próprios e que, neste instante, nesta noite, nada pode abalar o conforto da nossa própria companhia.
Mas depois há o amar os outros. E esse amor já não é (por muito que queiramos convencer-nos que sim) vivido só no presente, neste instante, nesta noite. Esse amor é vivido já no futuro porque queremos que ele seja de futuro. Quando amamos, desejamos com todo o nosso ser que o outro nos ame agora mas nos ame também numa realidade ainda distante (que pode ser já amanhã). E essa incerteza do que está para lá desta noite é o que nos desassossega e o que dá cor e sentido à nossa vida. O amor por nós próprios é o nosso calmante natural. Pelo menos hoje tenho a minha companhia e isso faz-me feliz. Mas sei que amanhã te quero aqui e que o meu desassossego te vai pedir para nunca mais ires embora.

Se te amares como eu te amo e se me amares como eu me amo, então sei que a combinação entre o desassossego do espiríto e a tranquilidade de um abraço será sempre deliciosa como tem sido até aqui. 

Voa e voa mais alto. 
Só uma louca não voaria contigo.
E louca, eu não sou.

Até já.
Tua.


quarta-feira, 22 de maio de 2013

Menos discurso e mais acção, Portugal.

Não costumo escrever crónicas de opinião, é verdade. E não é porque não tenho opiniðes. Eu sou aquele irritante tipo de pessoa que acha sempre qualquer coisinha sobre tudo, mesmo que não perceba grande coisa sobre o assunto. E na minha ânsia de saber tudo, às vezes também faço figura de parva. Mas adiante.

Não escrevo sobre este tipo de assuntos, porque a minha paixão pela escrita advém precisamente da capacidade que só ela tem de me transportar para outras (i)rrealidades. Gosto de escrever para ser mais feliz e para fazer os outros mais felizes, porque de infelicidades e agonias os jornais já nos enchem todos os dias.

De qualquer modo, hoje apraz-me dizer algo, ou melhor, questionar-me sobre algo que realmente me tem preocupado no meu país e nos meus compatriotas. Esta crise tem acentuado o nosso afamado Sebastianismo e está, arrisco-me a dizer, a tornar-nos ridículos. Ou então está tudo a ficar doido mesmo.
Precisamos desesperadamente de um herói. E de um mártir, pois claro.

Há umas semanas, o Miguel Gonçalves ia salvar a pátria para uns e enterrar o que resta do nosso jardim à beira mar plantado, para outros. Esta semana, um miúdo de 16 anos que ninguém sabe de onde saiu torna-se buzz nas redes sociais, domina todas as conversas e ainda consegue a proeza de passar de bestial a besta em 24 horas. A tal investigadora Raquel faz o percurso inverso no mesmo espaço de tempo.

A crise está a toldar-nos o raciocinio e o pensamento critico não está?

O amor/ódio pelo Miguel, pelo Martim e pela Raquel é bem revelador do nosso desespero. As próprias figuras são o espelho dessa realidade. Em casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão. Ora pois.

O Miguel trata os desempregados como um gado uniforme que não gosta de trabalhar e que está desempregado porque quer. O Miguel também diz que em Portugal há lugar para todos e sabemos bem (eu sei-o bem) que não é verdade. E o Miguel tem um discurso presunçoso que, convenhamos, é irritante.

Mas o Miguel também incita ao esforço pessoal para se atingirem metas, toca na ferida das licenciaturas, mestrados e por aí fora e defende a ideia de que infelizmente nem todos somos bons naquilo que gostaríamos (tendo por isso que, inevitavelmente, trabalhar o dobro e descobrir qual afinal é a nossa vocação) e é direto ao ponto de nos dizer que estamos na era em que cada um deve, por si próprio, arranjar uma solução. Ponto.

Em todo o caso, uma coisa é certa. Os discursos e as expressões carismáticas do Miguel, por si só, não mudam nada.

Quanto ao Martim e à Raquel, se pensarmos bem aquela troca de palavras não acrescenta absolutamente nada. É óbvio que o ordenado mínimo português é ridículo e que ninguém vive condignamente com menos de 500 euros. É óbvio também que a investigadora Raquel não se calou porque o menino é a última coca-cola do deserto e demonstrou uma sabedoria fora do comum que a arrebatou imediatamente. E sim, levanta-se um debate importante e fundamental na sociedade portuguesa que muitas vezes é discutido com uma leveza que me agonia.

Mas vamos agora crucificar o Martim, que tanto ainda tem para aprender e que claramente deu a resposta que mais depressa lhe veio à cabeça porque é um adolescente de 16 anos cheio de sangue na guelra? E ainda por cima, não é também verdade que, em paralelo com o problema do salário minimo, temos um flagelo de desempregados a engrossar as fileiras para os pedidos de apoios sociais?

Eu acredito piamente que devemos lutar pelos nossos direitos. E faço-o todos os dias, à minha maneira,  porque quero um dia que os meus filhos sintam orgulho nas suas origens portuguesas.

Mas, por favor. Não é de heróis nem de mártires que Portugal precisa. E claramente nenhuma das três pessoas mencionadas tem estaleca para o ser.

Nós precisamos, Portugal, é de quem fale menos e faça mais.

Até já,
Ana.



domingo, 19 de maio de 2013

Quando decobrimos o que há para lá do Mare Nostrum...

Uma vez que não posso tolerar a possibilidade de ser apelidada de info excluida ou anti-digitalmente-social, tenho que escrever um pequeno artigo sobre a minha recente viagem à Tunísia. As fotos, essas claro, já estão publicadas em local devido.

Agora a sério. Faço questão de escrever sobre esta viagem porque foi, mais do que uma semana de férias, uma experiência inesquecível. De entre muitas que tenho tido desde que a minha vida mudou tão radicalmente no dia 4 de Maio de 2012.

A Tunísia é o país mais pequeno do norte de África e tem aproximadamente a mesma população que Portugal. Factos chatos à parte, um país e um povo absolutamente deliciosos. Apaixonei-me várias vezes durante a viagem e fiquei com uma vontade imensa de explorar outros países africanos, onde a simplicidade parece ser tantas vezes sinónimo de felicidade. 

Assim que aterrámos em Tunis, percebi que estava numa dimensão radicalmente diferente de tudo o que já conhecia. É preciso frisar que esta foi a primeira vez que saí da Europa pelo que, estando tão verdinha nestas andanças, foi um choque para mim a competição cerrada entre os taxistas para cativarem um jovem casal de turistas a viajar no seu automóvel, o proprio automóvel que não está nem perto dos taxis confortáveis e bonitos a que tão complacentemente nos habituámos no "mundo desenvolvido", as ruas e a (des)organização de toda uma cidade que, ainda por cima, e a capital do país. Maravilhoso!

Não há espaço para carros, peões, bicicletas e outros veículos. Todos coexistem numa grande barafunda de sons e movimentos em que quem não conhece é como quem não vê. Não existem regras e quem olha para os semáforos é  daltónico. As rotundas fazem-se pela direita, mas se o senhor da mota a quiser fazer pela esquerda também pode ser. E os peões, esses podem optar entre caminhar pelo passeio ou pelo meio da estrada. Não há limites, o importante é chegar ao destimo que, muitas vezes, nem sequer existe na verdade. 

O combóio não chega ao final da linha. Não existem razões, não é preciso. O combóio pára, muda-se para o autocarro, ainda se volta para o combóio e o trajecto pode muito bem terminar de novo num autocarro que, claro, transporta muito mais pessoas do que a sua capacidade pressupõe. 

A comida tunisina, tal como as pessoas, é deliciosa, simpática, colorida e generosa. Não gosto do lugar comum e facil que assume que todos os magrebinos vivem para vender coisas de que ninguém precisa e enganar o turista. Não é verdade. Tentaram vender-me coisas com a facilidade com que me ajudaram. E mesmo quando me pediram dinheiro, ofereceram algo em troca: um tour pela medina, a visita a uma varanda com a melhor vista sobre a cidade, o lugar correcto no combóio e outras coisas afins. 

Adorei as praias e o mar (sobretudo porque tinha muitas saudades deles, uma vez que na verdade não são praias paradisiacas e, no geral, considero que em Portugal temos praias bem melhores), mas o expoente máximo da viagem foi indubitavelmente o Sahara. Enorme, vasto, muito quente e de uma tranquilidade inigualável. Nunca em toda a minha vida vi um céu tão bonito. Nunca ouvi um silencio tão profundo e tão reconfortante. 

E contactar com pessoas que, de facto, vivem em pleno deserto é incomparável. 
Somos minúsculos neste mundo tão grande. E que fantástica sensação é essa!

Aconselho a quem goste de viajar e ainda não teve a curiosidade suficiente para conhecer a Tunísia.
Mas, por favor, nao façam como os 7 milhoes de turistas que lá vão anualmente e saiam do resort. Vale mesmo muito a pena!

Entre tudo isto, passou um ano desde que cheguei à Irlanda. A única certeza que tenho é de que, quando cá cheguei, não podia imaginar que um ano depois escreveria algo parecido com este texto.

You'll only catch your dreams if you follow them!

Ate já,
Ana