O problema é que nós, humanos, seres de contradições e paradoxos, precisamos dessa insegurança para sermos inteiros. Passamos a vida a falar em "viver o presente" porque vivemos atormentados com a perspetiva do futuro. O futuro é incerteza e é nele que vivemos sempre. O presente é demasiado efémero e um minuto depois já desapareceu.
E então amarmo-nos implica que tenhamos (alguma) certeza de que somos o que queremos ser neste instante, neste momento. Lemos um bom livro, ouvimos um bom disco, fumamos um cigarro e sabemos que nos amamos, que somos felizes connosco próprios e que, neste instante, nesta noite, nada pode abalar o conforto da nossa própria companhia.
Mas depois há o amar os outros. E esse amor já não é (por muito que queiramos convencer-nos que sim) vivido só no presente, neste instante, nesta noite. Esse amor é vivido já no futuro porque queremos que ele seja de futuro. Quando amamos, desejamos com todo o nosso ser que o outro nos ame agora mas nos ame também numa realidade ainda distante (que pode ser já amanhã). E essa incerteza do que está para lá desta noite é o que nos desassossega e o que dá cor e sentido à nossa vida. O amor por nós próprios é o nosso calmante natural. Pelo menos hoje tenho a minha companhia e isso faz-me feliz. Mas sei que amanhã te quero aqui e que o meu desassossego te vai pedir para nunca mais ires embora.
Se te amares como eu te amo e se me amares como eu me amo, então sei que a combinação entre o desassossego do espiríto e a tranquilidade de um abraço será sempre deliciosa como tem sido até aqui.
Voa e voa mais alto.
Só uma louca não voaria contigo.
E louca, eu não sou.
Até já.
Tua.
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