sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Saudades.

Em dias importantes, como hoje, tenho crises agudas de saudades.

Em dias como hoje, a vontade que tenho é de largar tudo, dizer que não ao futuro planeado e certinho e correr para onde eu queria estar.

Em dias como hoje, eu queria só estar a festejar o teu aniversário contigo, à direita do teu lugar na mesa.
Queria rir-me com as pequenas e cantar as músicas do rádio a caminho de casa, com a minha cantora favorita.

Queria, no espaço de uma mensagem, estar em frente ao mar a comer um McFlurry do McDonalds da praia.

E em dias como amanhã, eu acordaria feliz e teria um abraço gigante de mãe e o colinho que está sempre tão longe.

Em dias como hoje, todas as conquistas parecem pequenas. A maior conquista seria ter isso tudo perto de tudo o resto.

Um beijo de emigrante saudosa a todos os que, de longe, me querem tanto bem!

Até já.

domingo, 26 de janeiro de 2014

Do tema do momento: a praxe

Em boa verdade, o título deste artigo não está 100% correcto. Este tema é deste momento como já foi de muitos outros momentos. A discussão à volta da praxe é velhinha, velhinha e, como em tudo o que se discute em Portugal, não há meio termo. Só se manifesta quem adora a praxe, considerando que ela fez parte da sua formação enquanto pessoa e que elevou os seus valores de companheirismo, amizade, dádiva, etc., ou então quem a odeia. Este último grupo de pessoas parte geralmente para a generalização gratuita, considerando que toda e qualquer pessoa envolvida neste "ritual secreto e perverso" é, naturalmente, frustrada e mal resolvida ou então, pelo outro lado, tornar-se-á num cidadão sem fibra, subjugado e inútl. 
Pois bem. Como sempre faço, reflecti muito sobre este assunto antes de escrever sobre ele. Li opiniões, artigos, crónicas, dezenas de posts de facebook de ambas as facções e acho-me agora capaz de opinar de forma congruente e (eu sim!) com muito conhecimento de causa.
Para começar com todas as cartas em cima da mesa, faço uma ressalva importante: fui praxada, praxei e adorei esses dois anos da minha vida, embora deva confessar, seja de longe muito mais divertido ser praxado do que praxar. E fi-lo, muita atenção!, porque QUIS. Porque voluntariamente eu quis experimentar a praxe. Nunca ninguém me obrigou a fazer nada e recusei-me inclusivamente a fazer algumas coisas por considerá-las estúpidas. Fui agredida, excluída, insultada? Não. Nunca. 
Facto curioso para todos os Pachecos Pereiras da vida: sou uma pessoa normal, tenho amigos, um bom emprego e boas relações com as pessoas por todos os sítios por onde vou passando. Como eu, tenho dezenas de colegas e amigos. Pessoas bem formadas e educadas que viram na praxe uma excelente oportunidade de se "divertirem à grande" com pessoas que, inicialmente, mal conheciam e que, naquele contexto de brincadeira e à vontade, se foram tornando, de facto, grandes amigos. Nunca me senti humilhada e certamente nunca humilhei ninguém. Nunca maltratei professores e nunca vi isso acontecer da nossa parte. Um dos "meus" caloiros mais activos é hoje em dia Presidente da Associação Académica da Universidade. Continuo amiga de alguns dos meus professores, pessoas de quem retirei ensinamentos para a vida e de quem nunca me esquecerei. Esses mesmos professores viram-me trajada, viram-me a praxar e nunca em momento algum me referiram nenhum tipo de repúdio por nada do que eu tenha feito. 
Quanto ao argumento de a praxe acrescentar ou não alguma coisa à sociedade. Bom, tendo em conta que a Fanny é uma figura pública, esse argumento nem sequer pode ser considerado. 
No entanto, caros leitores (e este no entanto é fundamental!), nem todas as pessoas são como eu, os meus amigos e grande parte dos que me praxaram e que eu praxei. Infelizmente, a praxe é uma tradição mantida por pessoas e como qualquer coisa que dependa de pessoas, ela está sujeita à perda da sua essência com o tempo, à estupidez humana e à falta daquela coisa que dizem que nos distingue dos animaizinhos. É isso, racionalidade. Assim sendo, e como qualquer actividade que envolva pessoas, a praxe pode e DEVE ser regulada e controlada para lá do código de praxe que, convenhamos, em termos humanos regula muito pouco.
Não vale a pena, portanto, na minha opinião, andarmos a tentar colocar as culpas na praxe em si. O problema está nas pessoas, como em tudo na vida! E então são essas pessoas que devem ser punidas, que devem ser impedidas de ter acesso à praxe, que devem pagar pelos erros cometidos. E não a praxe, porque a praxe em si é apenas uma tradição de integração e acolhimento que, na sua génese, nada tem de errado. Como referia hoje o HM no seu artigo do Expresso, há praxe no exército, há praxe em grupos desportivos, há praxe nas escolas secundárias, enfim. A praxe não é exclusivamente uma prática universitária e como tal não lhe podemos colocar todo o peso desta discussão em cima. 
Como ninguém neste momento em Portugal, tirando claro o envolvido, não sei o que aconteceu no Meco. Não sei se os seis estudantes estavam, de facto, em praxe nem se o Dux entrou ou não entrou na água com eles e teve, simplesmente, mais sorte. Não sei sequer se entraram na água ou se a onda os apanhou desprevenidos enquanto bebiam uns copos. Se entraram na água em praxe, contudo, a culpa não será certamente do Dux, uma vez que eles eram todos praxantes, adultos e voluntários. Não sei nada e ninguém sabe nada, embora andemos todos armados em Polícia Judiciária, faltando ao respeito à memória dos seis miúdos que perderam a vida, às suas famílias e ao sétimo rapaz que todos agora tratamos por Dux, mas que tem um nome, uma família e perdeu seis amigos num acidente terrível. 
Só há uma coisa que sei no seguimento daquilo que escrevi anteriormente. Não é suposto utilizar a praxe para actividades que colocam vidas em risco, ao fim de semana e na praia com a costa portuguesa em alerta vermelho. E neste sentido, todos os envolvidos são responsáveis, praxantes e praxados, tendo tido, infelizmente, a maior punição possível. 
Agora, se mesmo depois desta terrível lição, os estudantes da Lusófona e de outras semelhantes, continuam a achar-se no direito de prosseguir com este tipo de actividades arriscadas e de ainda por cima não falarem sobre elas, passando por cima de todos os limites da dignidade humana, meus amigos, que se lixe a praxe. Se é impossível regular as atividades praxísticas de um modo que vá para além do código de praxe e se é impossível controlar a estupidez humana de modo a evitar que outras tragédias aconteçam, que se lixe a praxe. Até porque, como sempre dizíamos:  "quando um faz m****, todos fazemos m****". 

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Cabo Verde. Terra de nha cretchéu.

Os meses e os anos vão passando e eu vou-me apaixonando. Por novos lugares, novos países, novas sensações, novos povos. O ano foi virado em Cabo Verde. Tempo quente como corolário de um ano cheinho de calor no coração. 2013 foi generoso comigo (só para me contrariar quando digo que os anos ímpares nunca são tão bons) e terminou em festa, com muitos sorrisos, um beijo apaixonado e um brinde cheio de promessas para os novos anos que nos esperam.
Mas 2014 entrou melhor ainda. Para quem nunca teve a oportunidade de conhecer a ilha de S. Vicente e particularmente a pequena cidade do Mindelo, por favor, façam-no. Há lugares neste mundo que, sem percebermos muito bem porquê, nos cativam de uma forma singular e especial. São aqueles lugares que nos aquecem o coração quando nos lembramos deles. O Mindelo é um desses.
Sendo uma pequeníssima vila (ou cidade) de pescadores, não deixa adivinhar à primeira vista, o maravilhoso calor humano, musical e cultural que esconde. Terra natal de Cesária Évora, o Mindelo vive de música, de animação, de sorrisos sinceramente felizes, de pessoas que, não tendo nada, têm tudo. Enquanto dançávamos na rua pela madrugada fora ao som de conhecidos intérpretes cabo-verdianos, entre eles Tito Paris, um dos milhares de mindelenses em festa perguntou-nos de onde éramos. Quando ouviu "Portugal", a sua resposta trouxe-me lágrimas: "Cabo Verde é Portugal. Somos povos irmãos". Os mindelenses provaram-me, uma vez mais, que a generosidade de quem nada tem não conhece limites (só no caso destes, os limites aos horários, à eficiência, à rapidez, e afins, o que num contexto de férias não nos pareceu assim tão mal!).
Santo Antão foi a segunda ilha de passagem e mostrou-nos paisagens que, sinceramente, nunca imaginei que existissem em Cabo Verde. A verdade é que nunca pensei que estas ilhas fossem, de facto, tão verdes e tão esplendorosas. Vales imensos a perder de vista, o corropio dos camponeses e a fome de terra dos pescadores. Mas o mar, esse que tanto me diz, sempre de fundo em tudo o que íamos fazendo.
E finalmente, Santiago, a ilha grande, a capital. A Praia é essa já uma cidade com tudo de bom e de mau que isso traz. Ali sente-se já um bocadinho mais o síndroma das cidades que vão crescendo, a impessoalidade dos gestos, os grupos mais reduzidos, o movimento das ruas. Mas o desejo de mar continua lá, a preguiça dos dias de sol, a alegria de quem parece viver eternamente de férias.
Saindo da Cidade da Praia, no entanto, tudo volta a ser como num documentário sobre lugares remotos do nosso planeta. Cheios de sede de aventura e vontade de explorar mais e mais, passámos pela pequena cidade da Assomada, onde fomos o centro das atenções, por vilas pequenas como S. Jorge e subimos ao pico do Boca Larga, onde pela primeira vez senti que chegara ao ponto último onde a terra se encontra com o paraíso. No Boca Larga ainda não há agua canalizada nem luz elétrica. A crianças brincam na rua e os seus melhores amigos são os animais do campo. Com muita certeza posso dizer que nunca vi crianças mais bonitas em nenhuma parte do mundo. Aliás, voltei com a suspeita de que o povo cabo-verdiano está no top 3 dos povos mais bonitos que habitam a terra. Ao fim de mais algumas viagens, poderei ter certezas mais concretas.
Assim fica mais um bocadinho de coração em pleno Oceano Atlântico, desta vez não em uma mas em várias ilhas, também elas, muito verdes. Ilhas de nha cretchéu, de simplicidade e harmonia. De cores, sabores, de um sol imenso e um mar turquesa a perder de vista.

Até já.