Os meses e os anos vão passando e eu vou-me apaixonando. Por novos lugares, novos países, novas sensações, novos povos. O ano foi virado em Cabo Verde. Tempo quente como corolário de um ano cheinho de calor no coração. 2013 foi generoso comigo (só para me contrariar quando digo que os anos ímpares nunca são tão bons) e terminou em festa, com muitos sorrisos, um beijo apaixonado e um brinde cheio de promessas para os novos anos que nos esperam.
Mas 2014 entrou melhor ainda. Para quem nunca teve a oportunidade de conhecer a ilha de S. Vicente e particularmente a pequena cidade do Mindelo, por favor, façam-no. Há lugares neste mundo que, sem percebermos muito bem porquê, nos cativam de uma forma singular e especial. São aqueles lugares que nos aquecem o coração quando nos lembramos deles. O Mindelo é um desses.
Sendo uma pequeníssima vila (ou cidade) de pescadores, não deixa adivinhar à primeira vista, o maravilhoso calor humano, musical e cultural que esconde. Terra natal de Cesária Évora, o Mindelo vive de música, de animação, de sorrisos sinceramente felizes, de pessoas que, não tendo nada, têm tudo. Enquanto dançávamos na rua pela madrugada fora ao som de conhecidos intérpretes cabo-verdianos, entre eles Tito Paris, um dos milhares de mindelenses em festa perguntou-nos de onde éramos. Quando ouviu "Portugal", a sua resposta trouxe-me lágrimas: "Cabo Verde é Portugal. Somos povos irmãos". Os mindelenses provaram-me, uma vez mais, que a generosidade de quem nada tem não conhece limites (só no caso destes, os limites aos horários, à eficiência, à rapidez, e afins, o que num contexto de férias não nos pareceu assim tão mal!).
Santo Antão foi a segunda ilha de passagem e mostrou-nos paisagens que, sinceramente, nunca imaginei que existissem em Cabo Verde. A verdade é que nunca pensei que estas ilhas fossem, de facto, tão verdes e tão esplendorosas. Vales imensos a perder de vista, o corropio dos camponeses e a fome de terra dos pescadores. Mas o mar, esse que tanto me diz, sempre de fundo em tudo o que íamos fazendo.
E finalmente, Santiago, a ilha grande, a capital. A Praia é essa já uma cidade com tudo de bom e de mau que isso traz. Ali sente-se já um bocadinho mais o síndroma das cidades que vão crescendo, a impessoalidade dos gestos, os grupos mais reduzidos, o movimento das ruas. Mas o desejo de mar continua lá, a preguiça dos dias de sol, a alegria de quem parece viver eternamente de férias.
Saindo da Cidade da Praia, no entanto, tudo volta a ser como num documentário sobre lugares remotos do nosso planeta. Cheios de sede de aventura e vontade de explorar mais e mais, passámos pela pequena cidade da Assomada, onde fomos o centro das atenções, por vilas pequenas como S. Jorge e subimos ao pico do Boca Larga, onde pela primeira vez senti que chegara ao ponto último onde a terra se encontra com o paraíso. No Boca Larga ainda não há agua canalizada nem luz elétrica. A crianças brincam na rua e os seus melhores amigos são os animais do campo. Com muita certeza posso dizer que nunca vi crianças mais bonitas em nenhuma parte do mundo. Aliás, voltei com a suspeita de que o povo cabo-verdiano está no top 3 dos povos mais bonitos que habitam a terra. Ao fim de mais algumas viagens, poderei ter certezas mais concretas.
Assim fica mais um bocadinho de coração em pleno Oceano Atlântico, desta vez não em uma mas em várias ilhas, também elas, muito verdes. Ilhas de nha cretchéu, de simplicidade e harmonia. De cores, sabores, de um sol imenso e um mar turquesa a perder de vista.
Até já.
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