sábado, 12 de outubro de 2013

Tu, sim, Malala.

Mais uma vez o Nobel da Paz foi entregue a uma organização. Mas ele deveria ser teu, Malala, e por isso escrevo esta pequena crónica.

Não quero, de modo algum, desvalorizar o papel que organizações como a da Proibição para o Uso de Armas Químicas ou a União Europeia tiveram para a preservação da paz mundial em momentos específicos fundamentais da nossa história. As duas grandes guerras foram efetivamente períodos horrendos e aterrorizantes e o papel destas organizações na re-pacificação da Europa e do Mundo não deve ser minimamente desvalorizado.

O que me incomoda é que, nos dias de hoje, já nem comités de tão alto gabarito como o da atribuição do Nobel da Paz pareçam ser capazes de desempenhar as suas funções longe dos interesses políticos e estratégicos das grandes, pequenas e médias potências. O Obama precisa de ser visto como o novo fôlego na credibilização da política externa norte-americana, ganha o Nobel da Paz. A UE está em crise, damos-lhe o Nobel da Paz. É preciso que alguém legitime uma intervenção na Síria, tomem lá o Nobel da Paz.

Ainda mais, no entanto, me incomoda pensar que esta organização que ganha agora o prémio máximo do reconhecimento pelos esforços para a paz mundial é financiada por algumas das mesmas entidades que, ao mesmo tempo, financiam a existência e a persistência da existência de armas químicas, ou não químicas - isso será o menos relevante neste contexto, se levarmos em consideração que PAZ é geralmente definida como um estado de calma ou tranquilidade, uma ausência de perturbações e agitação. Derivada do latim Pacem = Absentia Belli, pode referir-se à ausência de violência ou guerra (Wikipedia).

E por isso é que eu acho que tu, Malala, tu merecias o Nobel da Paz. O prémio principal e não apenas o Sakharov de consolação.

Porque tu és apenas tu e a tua voz e a tua coragem. Tu falas de uma solução absolutamente pacífica e de consequências magnânimes a longo prazo. Também eu acredito que a educação é o caminho para um mundo mais igualitário e mais justo, sem armas químicas, mas também sem discriminação, sem fanatismos religiosos ou políticos, sem a opressão das minorias.

Mas há, para além de tudo isto, outra coisa em que eu acredito. Eu acredito que a nossa geração precisa de exemplos como tu, Malala. A nossa geração precisa de acreditar em muito mais do que nas organizações e nas elites políticas e financeiras que nos (des)governam.

Nós precisamos de acreditar nas pessoas. Nas boas pessoas e nos seus sonhos, na sua coragem. Só essas, como tu Malala, têm o verdadeiro poder de transformar o Mundo num lugar melhor.



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