Desde que deixei Portugal, há um ano e meio sensivelmente, o tema da emigração jovem tem feito cada vez mais furor. Duvido que ainda reste alguém em Portugal que não tenha pelo menos uma pessoa próxima a viver fora do país: um filho, um amigo, um irmão, um neto. Somo-lo todos nós e sabemos bem o peso que isso acarreta.
Não acredito, no entanto, que a questão da emigração seja, sempre, abordada da forma mais correcta. Acredito mais depressa que seja abordada pelo lado mais fácil, mais mediático e mais sensível para qualquer um de nós: a dor de partir, a saudade, a coragem, a cobardia, o fugir, o enfrentar, enfim, toda uma panóplia de termos que parecem andar de mãos dadas com todos nós que tomámos a decisão de sair e com todos os "nossos" que ficaram.
Apesar de não negar nem querer ignorar de nenhuma forma o peso emocional e as consequências demográficas e económicas para o nosso país que esta vaga de emigração jovem traz e trará em anos não muito distantes, julgo que está na hora de olharmos para o fenómeno por um lado menos negativista e menos pesado.
Por que não substituir as expressões "coragem" ou "fuga" por "sucesso" e "conquista"? Por que não pensar naqueles que deixam o país como "os que encontraram alternativas mais satisfatórias e realizadoras", ao invés de encará-los como "os que, coitadinhos, deixam o país porque a sua vida era absolutamente miserável e nunca poderiam ser felizes no seu Portugal?". Bem sei, bem sei, nem todos os casos de emigração são casos de sucesso. Mas há muitos, imensos até, que o são e isso prova, mais do que a falta de oportunidades que há em Portugal, o quão bons são estes lusitanos que se aventuram além fronteiras!
Por outro lado, os que ficam em Portugal, são também muitas vezes vistos de duas formas distintas. Para uns, são os coitadinhos sem coragem, cujas vidas estão condenadas ao fracasso num país que nada mais tem para oferecer do que precariedade e desemprego. Para outros, os que decidem não sair são os resistentes, os bravos que se mantém e que lutam por uma pátria em decadência. Para mim, os que ficam são tão pessoas e tão tudo o resto, como todos aqueles que saem. O seu único pecado (ou virtude!) é terem feito outras escolhas, terem outras prioridades.
A chave está, na minha opinião, em olharmos para tudo isto de uma forma mais otimista e em assumirmos que a emigração de hoje em dia (embora de consequências futuras inegavelmente nefastas!) é radicalmente diferente daquela que se praticava há quatro ou cinco décadas. Nós já não somos os emigrantes da mala de cartão, mas também não fugimos nem perdemos afectos nem nos esquecemos do quanto é bom ser Português.
Mesmo que tudo o resto falte, nunca nos tirarão os dias de sol no Inverno, o bacalhau com natas ou o Fado. Esse Fado que, em qualquer parte do Mundo, viverá eternamente connosco.
Tens toda a razao Ana. Ha uma rotulacao despropositada que tem vindo a ser utilizada sem conta, peso e medida.
ResponderExcluirOs que ficam. Os que foram. Os resistentes. Os traidores.
Quem sai nao e o heroi tao aclamado, nao somos os valentes corajosos que saimos porque temos um braco mais forte ou um intelecto excepcional. Quem fica, por sua vez, fa-lo por motivos varios que tanto nao invalidam a sua coragem como nao lhes atribuem o papel de salvadores da patria.
Os que foram.
Nao somos mais valentes do que quem fica. Tambem nao somos os apatridas que esquecem todas as memorias e experiencias que fazem de nos quem hoje somos. Saimos porque sonhamos, porque sabemos que se lutarmos esses sonhos podem ser bem mais do que isso.
Enfrentamos batalhas, tal como quem fica, que nao devem ser excessivamente vangloriadas ou menosprezadas. Temos tanto merito como aqueles que, por circunstancias varias, decidem que a escolha certa e travar as batalhas no pais do Sol e da comida que nos embala. Porque mais do que o ponto geografico em que estamos, e a nossa tentativa de conquista de um mundo que faz de nos pessoas mais felizes.
Ha quem saia por necessidade mas tambem ha quem o faca porque quer, porque quer mais do que lhe e permitido naquele espaco. Esses – nos - queremos romper barreiras, desafiar os nossos limites, exceder as nossas expectativas. Na Irlanda? Na China? Em Portugal? Estamos a conquistar o mundo, sim, mas um mundo nosso, ausente de fronteiras fisicas.
Saimos nao porque abandonamos o pais mas porque num determinado momento aquela coordenada geografica nao nos permitiu continuar nessa perseguicao dos nossos sonhos.
Por isso, o meu hip hip aos que ficaram, aos que sairam, aos que fazem parte do grupo que nao tem medo de sonhar o impossivel e de dar passos na direccao onde os sonhos se materializam.
Ana, es um orgulho!
Escreves bem, miúda, já to tinha dito.
ResponderExcluirConcordo e discordo de ti. Acho, sinceramente, que a maior parte dos que ficam nao tem capacidade de aguentar a distancia e a saudade, tal como nós fazemos. Mas isso nao faz deles melhores ou piores, apenas diferentes. Há pessoas que sao capazes de correr 40km, outros nem conseguem correr 40m. Sao piores? Nao! Como dizes e muito bem, apenas tem prioridades diferentes e escolhem caminhos diferentes para as tentar alcancar. E há que respeitar!
Como diz a Flávia, nao abandonei Portugal, nao me vim embora e nego a minha Pátria, a minha terra. Será minha para sempre! Apenas me vim embora porque, muito simplesmente, percebi que fora de Portugal havia pessoas exactamente com a mesma experiencia profissional que eu, com a mesma formacao profissional que eu (ou muito semelhante), que trabalhavam com tanta qualidade como eu (ou menos, perdoem-me a imodéstia) mas que tinha oportunidades profissionais que a mim me estavam vedadas em Portugal!
Foi aí que pensei para comigo: "O que é que te prende aqui?"... E depois de muito pensar e reflectir, respondi a mim próprio que muitas coisas me prendiam e prendem a Portugal. Mas estava na altura de arriscar sair da minha zona de conforto em busca dos meus sonhos (nao consigo descrever melhor do que a Flávia já o fez), para que um dia, eu e os meus, possamos ter mais opcoes á nossa frente do que eu tive, enquanto estive em Portugal.
Já agora, Ana, só te perdoo o facto de nao teres mencionado os pastéis de belém porque nao és de Lisboa! :D